1º: viewtopic.php?f=53&t=9611" onclick="window.open(this.href);return false;
2º: viewtopic.php?f=53&t=9740" onclick="window.open(this.href);return false;
3º: viewtopic.php?f=53&t=9833" onclick="window.open(this.href);return false;
4º: viewtopic.php?f=53&t=9953" onclick="window.open(this.href);return false;
5º: viewtopic.php?f=53&t=10017" onclick="window.open(this.href);return false;
6º: viewtopic.php?f=53&t=10081" onclick="window.open(this.href);return false;
7º: viewtopic.php?f=53&t=10238" onclick="window.open(this.href);return false;
8º: viewtopic.php?f=53&t=10306" onclick="window.open(this.href);return false;
Especial "Carlos Gardel": viewtopic.php?f=53&t=10383" onclick="window.open(this.href);return false;
9º: viewtopic.php?f=53&t=10391" onclick="window.open(this.href);return false;
10º: viewtopic.php?f=53&t=10515" onclick="window.open(this.href);return false;
11º: viewtopic.php?f=53&t=10624" onclick="window.open(this.href);return false;
12º: viewtopic.php?f=53&t=10716" onclick="window.open(this.href);return false;
Especial de Natal: viewtopic.php?f=53&t=10741&start=0" onclick="window.open(this.href);return false;
13º: viewtopic.php?f=53&t=10799" onclick="window.open(this.href);return false;
Especial Ano Novo: viewtopic.php?f=53&t=10871" onclick="window.open(this.href);return false;
14º: viewtopic.php?f=53&t=10974" onclick="window.open(this.href);return false;
A dama da Chacarita
Todos os anos era a mesma situação. Quem era ela e o que ficava fazendo durante uma hora ali parada? Nada ela dizia ou fazia, apenas observava o jazigo onde se encontrava “El lobo”.45 anos tinham se ido desde a trágica morte de Augusto Vandor. E muitos visitavam a tumba e ali colocavam flores e placas para relembrar o sindicalista morto com cinco tiros no local onde ele tão absoluto reinou um dia como líder da CGT argentina. Outros tantos, gentes de agora, ignoravam aquele túmulo, preferindo tirar incontáveis fotos de outros mais recentes ou ficar conversando como gralhas sobre assuntos idiotas.
Cemitério não era lugar para esse tipo de conduta, pensava o coveiro enquanto observava a mulher de negro e rosto coberto ali imóvel, parecendo rezar por aquela alma que não parecia ter encontrado a paz. Ela, de novo, fizera a mesma coisa após passar uma hora observando: colocou um belíssimo e farto ramalhete de rosas brancas à porta do jazigo.
O velho coveiro afinal cansou-se de só ficar observando. Aproximou-se...
- Quem... é você? Eu sempre a vejo por aqui, mas nunca a dizer nada. Você o conhecia?
- Eu o amava... em segredo. Nunca contei a ele como me sentia. E quando finalmente eu ia dizer, o perdi ou pelo menos é isso que terá de ser... sempre – respondeu a mulher sem mudar de posição ou virar a cabeça para olhar o coveiro.
O coveiro não compreendeu a última parte daquela frase. Não era como se o morto ali sepultado, ou melhor, depositado, fosse levantar-se do caixão e sair andando como gente normal. Se bem que não eram raros os relatos de ex-colegas dele, tanto da Chacarita quanto da Recoleta, dizendo que criaturas notívagas chupadoras de sangue viviam nos túmulos, principalmente nos jazigos em capela. Esperando algum otário resolver entrar ali ao anoitecer. E embora fosse raro, cadáveres exangues e gente desmaiada por perda de sangue apareciam em volta do cemitério. Com marcas no pescoço.
O homem achava que aquilo era invenção, afinal, ele nunca tinha visto nada parecido com isso e menos ainda tinha sido atacado por quem quer que fosse. Claro que isso não diminuía o fato de às vezes ele ver algumas pessoas de preto andando pelo cemitério no começo da noite, horário no qual geralmente ele terminava seu serviço de dar aos mortos a última morada...
- Não quero ser invasivo, mas porque você sempre faz isso? O mais óbvio não seria você colocar as rosas sobre o monumento ao invés de na porta do jazigo? Porque, se você me perdoa a intromissão, a tendência é essas flores estragarem muito mais rápido.
- O senhor não entende, não é? Os seus colegas daqui ou da Recoleta nunca te contaram? – disse ela afinal virando-se na direção do velho. Ele se surpreendeu ao finalmente enxergar, ainda que o véu não deixasse ver muito, o rosto, que parecia incrivelmente jovem. Embora o andar da mulher fosse claramente, ainda que normal aos olhos da maioria, mas aos olhos já idosos dele, o de uma pessoa muito mais velha.
- Já ouvi falar, mas não pode ser sério. Mortos não voltam à vida para se alimentar de outros – disse ele tentando aparentar ceticismo embora o tremor de sua voz indicasse que talvez pudesse crer em tal absurdo.
A mulher afinal descobriu o rosto. O coveiro pôde jurar que ela era exatamente a mesma pessoa que há tantos anos ele havia visto naquele mesmo local, acompanhando o funeral de Augusto Vandor...
- De todas as pessoas..., você?!
- Sou eu, Domingo, Ligeia, como no conto do Allan Poe. Você realmente não me reconheceu mesmo tendo me visto aqui durante todos esses anos – disse ela, cuja aparência, embora fosse a mesma de 1969, quando ela tinha trinta anos, tivesse claras diferenças: o cabelo era total e anormalmente branco e os olhos eram amarelos como os dos felinos de raça rara.
- O que diabos aconteceu com você? Não entendo! Tudo o que ouvi falar pode ser verdade então?! – o coveiro apavorado se encontrava e ao mesmo tempo dava graças a Deus por estar ainda vivo.
- Sim, é verdade. Especialmente o que nunca te disseram sobre Augusto Vandor – respondeu ela para em seguida dar um suspiro: - Um monstro o transformou em uma criatura diabólica que jamais vai poder sair daqui. Se por acaso rosas não forem colocadas aqui uma vez a cada aniversário de morte dele, ele despertará e causará estragos que você não imagina.
- Você quer dizer matar indiscriminadamente para beber o sangue e talvez coisas piores ainda? Só que tem uma coisa: como essas rosas vão impedir que... isso aconteça? – o coveiro não queria sequer imaginar “El lobo” caminhando de novo sob pés humanos. Ou o que fosse que ele tivesse virado.
- Nota-se que você nada conhece de mitologia ou magia. As rosas, quando unguentadas com líquido feito à base de arruda e outras plantas contra mau-olhado, servem como um selo para o corpo do vampiro, elas evitam que ele levante do caixão. Só que esse tipo de coisa exige um cuidado muito grande... – Ligeia se viu interrompida por Domingo: - Não era mais fácil alguém... matá-lo de novo? Teria sido mais fácil, eu suponho.
- Não sei exatamente o que Felicia Morresi pensou quando decidiu agir desse modo. Eu presumo, porém, que ela se acha capaz de domar esse lobo. E talvez essa prisão física pode servir para ajudá-lo a não se corromper devido ao sangue diabólico correndo dentro dele. No entanto, eu conheci Vandor melhor que ela e sei disso ser quase impossível. E sendo sincera, esperar um milagre não parece uma escolha muito sábia – disse ela tristemente.
- Infelizmente sei disso. Eu o enterrei, ao José Alonso e ao Rucci em menos de cinco anos. E outros tantos que se foram antes que aqueles malditos instalassem a ditadura. Enquanto eu não pude fazer nada porque tinha filhos pequenos e esposa e outros não estavam nem se importando. É por isso que prefiro ficar entre os mortos. Os vivos na sua maioria são nojentos e mesquinhos – Domingo quase cuspiu as palavras de raiva. Todos que conheciam sabiam dele ser quase totalmente niilista. E de sua preferência por ficar sozinho com gente morta.
- Não diria isso se fosse você. Ninguém é igual a ninguém e muito menos santo, senhor – a voz de um homem se fez ouvir entre os túmulos e logo Ligeia reconheceu o lobo Valentín Gaytán: - O que faz aqui?
- Averiguando se o túmulo do Augusto Vandor continua selado. Embora Felicia tenha executado um excelente trabalho, não há garantia de que esse selo durará para sempre. Por isso você vem aqui colocar essas flores – disse Gaytán para depois olhar para Domingo: - Sei que anda cada vez mais difícil acreditar nos humanos, mas acredite, ainda existem boas pessoas.
O coveiro nada disse, apenas assentiu enquanto Ligeia finalmente deixava o local após despedir-se rapidamente e Valentín observava mais um pouco. Até decidir-se a também deixar o local, ficando apenas o coveiro a observar aquele local que de repente parecia ser o mais perigoso do mundo. Foi quando ele resolveu ficar o mais longe possível dali e encontrar um caminho alternativo para não passar por aquela tumba selada de um ente diabólico.
Já em um jazigo pouco mais distante que uma quadra, alguém, oculto nas sombras por ser impedido de contatar a luz do sol, apenas observou o desenlace daquela situação...
- El invierno se acerca. Y más frío se llegará.

Espero que apreciem mais uma história da antologia. E preferencialmente coloquem suas impressões sobre as anteriores.