De vampiros portenhos e sonhos escabrosos - 23º conto:

Venha bater aquele papo furado. Área típica para flood.
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Lady Carmilla DWFan
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De vampiros portenhos e sonhos escabrosos - 23º conto:

Mensagem por Lady Carmilla DWFan »

Mais um conto para apreciação dos membros do fórum. Espero que gostem e comentem a continuação de A proposta (viewtopic.php?f=53&t=10017" onclick="window.open(this.href);return false;), :D .


O duelo (Continuação de “A proposta”. Baseado no universo da Arena, criado por Rita Maria Félix.)


Carlos Malefidele era prisioneiro há quase sete meses. Os subordinados de Leopoldo Belmondo o tinham colocado em uma cela especial localizada em um local impossível de rastrear por meios normais. Recebia sangue todas as noites por um carcereiro. Não sabia, até o momento, o que o vampiro-prior do Rio da Prata planejava. Por não se falarem desde o dia em que havia sido colocado no local conhecido como “A Boca do Inferno”.
Segundo os vampiros que ele conhecia, o pior lugar onde você poderia ser aprisionado. Na opinião da maioria dos seres sobrenaturais, nem a pior das prisões humanas podia comparar-se àquilo. Pelos deuses antigos, eles tinham razão. Aquilo era mesmo a entrada da morada de Lúcifer.
Tudo foi muito repentino. Recebeu voz de prisão 48 horas após rever os antigos lobisomens da Arena e entregar a Leopoldo a provável maneira de destruir a ameaça conhecida como “O Juízo Final”. Carlos não tivera escolha a não ser aceitar o cárcere, pois Belmondo o ameaçara seriamente. O entregaria à Alcateia no Brasil caso não colaborasse com seus planos de destruir o Conselho dos Lords. Malefidele queria viver, não entregaria os pontos. Não tão rápido. Quem sabe conseguisse conquistar a confiança dele se mostrasse uma atitude inofensiva. No entanto, não era má ideia livrar-se dos Lords. Poderia tornar-se o único Lord do Brasil. Faria vantajosos negócios com o prior espanhol.
Suas esperanças foram cortadas muito rapidamente. Soube, por informações confiáveis, que Leopoldo Belmondo planejava implantar o Priorado do Brasil. Ou seja, Carlos não tinha a mínima chance de obter o poder absoluto desejado. Viu-se furioso. Estava vivo, porém. E sua vida era, pelo menos no momento, a melhor recompensa. Entretanto, se aquele espanhol inconveniente achava que seria tão simples, era melhor repensar. Não iria desistir só porque ele queria. Lograria seu objetivo de alguma forma. Só precisava de um plano. Ele não imaginou de início, mas seu plano, talvez, estivesse a algumas celas distante da dele. E muito menos Carlos pensaria que certo vampiro iria fazer algo completamente anormal.
...
Costuma-se dizer que a vida muda quando nós mudamos. Esse era o caso de três lobisomens: Alia, Alonzo e Caio.
Acontecera pouco após a prisão de Carlos Malefidele. Na opinião dos três muito pouco perto do que ele merecia de fato. No entanto, se ele estava sofrendo como muitos andavam comentando, era bem feito para ele. Cada um seguiu um rumo embora os mesmos convergissem no mesmo local e pessoa: a casa de Leopoldo.
Alia ficou como segurança-porteiro de uma das empresas de Belmondo. Melhorava a cada dia seu espanhol. Alonzo havia virado mâitre de um dos restaurantes em que o vampiro em questão tinha ações majoritárias. Já Caio, dos três o mais novo em idade, havia virado empregado-agregado de María Luna, a bela irmã vampira do mesmo ser noturno. Ganhava um salário considerável em troca de proteger a casa da vampira durante o dia e ser secretário quando era necessário para tal. O trio achava a vida bem mais confortável agora comparada à antes. Sabiam, no entanto, dever lealdade ao espanhol chupador de sangue que os acolhera. E ele em nada era parecido com qualquer deles que tivessem conhecido antes.
Belmondo era completamente diferente do esperado de um vampiro. Não gostava de matar para alimentar-se. Não suportava qualquer tipo de injustiça. Não fazia diferença entre seres sobrenaturais e humanos. Tratava a todos com respeito, igualdade e justiça. Até mesmo gostava de estar entre pessoas normais. Caio contou, com nítida surpresa, que Leopoldo tinha incontáveis fotos com mortais famosos em um cômodo da casa. E o tinha ouvido cantar uma daquelas músicas popularescas, um tipo que os argentinos chamavam “cumbia”, ritmo muito dançado em bailes e festas.
Os dois ouvintes ficaram de queixo caído. Leopoldo era decididamente excêntrico. Daqueles de fazer total jus ao sentido denotativo da palavra. Eles, porém, também sabiam sobre ele ser implacável quando se tratava de resolver determinados tipos de assunto. Ele era sim capaz de matar. Fazia-o, no entanto, apenas quando a situação exigia. Se bem que era difícil a maioria das situações serem resolvidas só com diálogo quando a outra parte não queria saber de conversa. A Alcateia no Brasil mantivera seu pacto com os vampiros após eles garantirem que Malefidele seria entregue para ser morto. Contudo, o maldito tinha conseguido fazer-se de desintegrado pela luz do dia e fugido para a Argentina.
Os três viam-se rindo de repente quando se lembravam dele agora preso na “Boca do Inferno”, nome pelo qual a prisão sobrenatural localizada em lugar desconhecido era conhecida. Os risos, contudo, paravam quando recordavam do quanto ele podia ser perigoso. Especialmente porque Carlos tinha poderes bem sérios. E mortalmente carrancudos se tornavam ao recordar de certa prisioneira daquele local: Beatriz Olmedo.
Nenhum ser sobrenatural gostava de dizer tal nome em voz alta. Ela era odiada por todos aqueles que prezavam a verdadeira justiça e a liberdade de escolha. A tal Olmedo era uma Caçadora. Um daqueles humanos com a capacidade de detectar seres sobrenaturais e caçá-los caso fossem treinados para. Ela, porém, usara suas habilidades para exterminar todo e qualquer deles que encontrasse pela frente. A regra não costumava ser essa. Só deveriam ser exterminados os causadores problemas graves e ocasionalmente algum humano que o ajudasse.
Beatriz, por sua vez, não se importava com regras ou qualquer outro que não ela mesma. Matava quaisquer deles e até mesmo humanos quando eles os ajudavam. Não raramente agia como mercenária. Tal maneira de agir despertou imenso ódio. Todos queriam sua cabeça. Queriam vê-la punida pelas detestáveis coisas feitas em nome de seus ideais deturpados.
Os lobisomens souberam, por fonte segura, sobre Leopoldo Belmondo ser responsável pela prisão perpetuamente congelada de Beatriz Olmedo. Os detalhes não eram conhecidos a fundo, mas souberam eles de o vampiro com ela ter lutado em pelo menos duas ocasiões antes de prendê-la de vez. Na última, conseguira a façanha de cortar o antebraço da Caçadora, fazendo-a sangrar quase à morte, sendo ela salva por uma bruxa, Felicia Morresi. A usuária de magia, após Leopoldo levar Beatriz para a prisão, prendeu-a em um bloco de gelo gigante. Não precisaram de juízo para condenar a terrível Caçadora à pena perpétua. Ela ali ficaria pela eternidade, congelada viva, sendo torturada diariamente por seus crimes.
Os rapazes tremeram imaginando a cena. Uma pessoa ainda viva presa em um bloco de gelo por toda a eternidade. Condenada a nunca mais poder caminhar entre as pessoas. Eterna e angustiante solidão.
...
Leopoldo Belmondo despertou abruptamente. Tinha maus pressentimentos. A noite não tinha lua e as estrelas eram ausentes. Hoje era o aniversário de seu último duelo com a maldita de “mechón blanco” e sorriso de vadia luxuriosa. O nome de Beatriz Olmedo trazia-lhe as piores recordações. Seu humor estava péssimo. E ainda pior ficaria.
Procurou sua amada Paquita Bernardo pela casa após levantar-se do esquife. Encontrou-a tricotando roupinhas de bebê. Tornou-se repentinamente amargurado. Jamais poderia realizar o sonho dela: ser mãe. Os dois nunca poderiam adotar um filho e criá-lo como pais normais. Sentia-se terrível...
- Amada?
- Boa noite, meu amor. Como se sente hoje? – perguntou ela sorrindo ao virar-se para ele.
- Não foi um despertar muito tranquilo – suspirou ele longamente para depois perguntar: - São para doar?
- Sim. Quero sempre ver os bebês humildes bem abrigados – respondeu ela triste e depois sorriu com amargura: - Já que nunca poderemos...
- Por favor, pare. Eu sei – Leopoldo aproximou-se e sentou-se apoiando a cabeça nos joelhos dela. Viu-se pranteando sangue. Precisava às vezes chorar. Apenas com ela e seus próximos ele podia ser quem realmente era: um ser humano intocado pela morte ou pelo tempo. Diante de outros tinha de ser um implacável vampiro-prior, mas aquela função o minava de suas forças todos os dias. A responsabilidade era muito pesada. Não tinha ideia de onde tirava forças para suportar. Logo pensou: fazia isso para proteger o mundo de pessoas que só agiam por seus próprios interesses sem refletir as consequências para outros.
Belmondo não era daqueles possuidores de interesses pouco nobres ou fornecedores de vantagens “ilimitadas”. Ele sabia que uma hora tudo se desvanecia. E muito provavelmente não teria valido a pena agir por aquilo. Aprendera o desapego dos bens e interesses ruins com seu superior do seminário, um dos poucos padres respeitadores da batina usada naquela época. Em todo seu estudo e vivência para ser padre, havia aprendido muito mais do que vivendo entre a nobreza ociosa e pouco nobre da qual sua família era parte. Na verdade, adquiriu verdadeiro asco daquela gente. E até hoje tinha. Entretanto, viver séculos o tinha feito rever muito do antes sabido. Especialmente sobre quase ninguém ser santo ou isento de maldade.
Paquita acarinhava os macios cachos castanhos de seu amado enquanto ele chorava.
Guillermo, por sua vez, sabia que nada era capaz de consolá-lo da dura realidade vivida. Também tinha ciência de Leopoldo muitas vezes desejar entregar seu cargo para alguém de confiança, mas não o fazia. Estava certo de ainda ter forças para suportar tal responsabilidade. Sussex às vezes perguntava-se porque Solomon fizera Leopoldo seu substituto como “vampiro-prior do Rio da Prata”. Não que seu melhor amigo não merecesse tal título, mas por saber de Belmondo ser humano demais na maior parte do tempo. Isso o fazia demasiado vulnerável a emoções extremas. E muitas vezes ele se tornava muito mais perigoso que o normal.
O vampiro britânico logo recordou que dia era aquele. 150 anos antes ocorrera o último e mais feroz conflito de Leopoldo contra a terrível Beatriz Olmedo, causadora de tantas dores de cabeça de seu amigo. A maldita tinha encontrado o merecido destino cruel após cometer tantas maldades. Contudo, sabia dela ter motivos para ser do modo como era embora não justificassem tais atrocidades. Metade da vida sofrendo todo o tipo de abuso físico e psicológico em um orfanato havia amortecido e esfriado aquela alma. Questionava-se como uma mãe ou um pai era capaz de abandonar tão friamente uma criança apenas porque ela tinha habilidades inexplicáveis. Alguns humanos definitivamente não mereciam reproduzir-se.
No entanto, era o que eles faziam sem pensar. Gerar, e parir, um filho era demasiado fácil, difícil era criá-lo com amor e impondo os devidos limites para evitar torná-lo um adulto de índole ruim. Infelizmente, porém, assim como existe a educação doméstica, existe a das ruas e companhias. A saída ao mundo exterior muitas vezes acabava por moldar parte do caráter de muitas pessoas e induzi-las a escolhas errôneas. Guillermo encaixava-se naquela situação. Fora criado trancado no castelo de sua família metade da vida porque a mãe temia perdê-lo para a guerra. Acabou mandado ao seminário, um mosteiro francês, onde ele se tornou padre aos 24 anos. Dez anos depois, Solomon o transformaria em vampiro.
E vinte anos depois, seria a vez de Leopoldo tornar-se. E desde que se tornou o vampiro-prior do Rio da Prata, muitos passaram a persegui-lo com o intuito de matá-lo para tomar seu lugar. Embora os motivos fossem bem diversos naquele ponto. O britânico desconfiava seriamente que o principal motivo tinha algo a ver com a última conversa de Solomon e seu espanhol favorito, da qual ele voltara incrivelmente alterado. Ocorrida antes que o Ancestral morresse, meses depois, empalado em uma emboscada armada por Pedro Invalesco. Fato que ninguém havia conseguido explicar como acontecera. Todos desconfiavam de traição arquitetada por algum discípulo revoltado.
Ninguém tinha certeza, no entanto. Afinal, Lord Invalesco não gostava de imaginar vampiros tão ou mais poderosos que ele. Tinha sido transformado por Yafar, um Ancestral “árabe”, pelo menos dois ou três séculos antes de Leopoldo. No entanto, Belmondo, embora fosse bem poderoso, não possuía poderes fora do normal. Ou pelo menos em teoria, já que seu melhor amigo nunca lhe dizia o conteúdo do cofre que trouxera de sua última conversa com Solomon. E Sussex não perguntava por achar muito perigoso saber aquilo. Seu instinto lhe dizia seriamente ser melhor não questionar sobre.
De repente, o inglês viu seu amigo levantar-se em inesperado estado de alerta...
- Leopoldo, o que foi? Não o vejo neste estado faz pelo menos décadas!
- Ele está atrás de mim, outra vez. E desta vez virá pessoalmente. Já que na outra ocasião não pôde me eliminar, fez questão de dessa vez ele mesmo fazer o trabalho – respondeu ele ao que Paquita e Guillermo entreolharam-se espantados.
- Você está de novo tendo aquele instinto de perigo? – Sussex aproximou-se preocupado.
- Sim, meu amigo. Lord Pedro Invalesco resolveu acabar comigo de vez, só não me pergunte o que o levou a sair do Brasil e vir até aqui só para isso – Leopoldo dizia como se falasse consigo mesmo.
Não queria pensar na possibilidade, porém, talvez ele soubesse. Se fosse mesmo isso, Deus. Temia despertar coisas indevidas de si mesmo. Perguntava-se sobre porque Solomon lhe dera aquela capacidade. Por acaso seu mestre estava louco?! Ele tinha ideia de quão perigoso era aquilo? Não que usasse à moda louca, mas sabia do imenso desejo de alguns vampiros por sua cabeça. Belmondo tinha absoluta certeza de eles saberem o que o Ancestral tinha colocado em seu corpo meses antes de ser assassinado. Algo capaz de dar-lhe o indesejável título de “vampiro mais poderoso do mundo”. Não raras vezes tinha mortal ódio de seu mestre já falecido por isso. Já lhe bastava ser vampiro-prior.
A esposa e o melhor amigo captaram os pensamentos dele. Ambos se viram tampando uma exclamação proibida. Então era isso?! Não estavam admirados do espanhol jamais dizer-lhes algo sobre. Era perigoso, dizendo o mínimo. Leopoldo, quando desejava ou sem querer, com breve contato podia copiar permanentemente a capacidade especial de alguém. Solomon batizara tal poder de “Mimésis”, que originara a palavra “mimese”. Muito possível era que tal coisa fosse o motivo pelo qual o Ancestral havia sido morto há duzentos anos. Tal morte deixara Belmondo inconsolável meses a fio. Ele havia jurado vingar-se dos responsáveis quando os encontrasse.
- Vocês agora sabem, não é? – perguntou ele percebendo as expressões espantadas dos dois ali mortalmente parados.
- Jamais diremos enquanto vivermos. Juro por minha vida e meu sangue, meu amigo – Guillermo curvou-se tal qual um cavaleiro fazia mediante um rei.
- Agora eu entendo, meu amado. Você guarda naquele cofre os poderes que ganhou em suas incursões – disse ela pondo uma mão sobre o peito e depois o olhando: - Poderes são algo abstrato, então como?
O prior espanhol suspirou sorrindo. Paquita Bernardo era mesmo uma grande vampira. Sabia de algo extremamente perigoso e jamais dissera uma só palavra nem mesmo quando estivera em mortal perigo, quase quarenta anos antes. Por isso era tão apaixonado por ela. Era sábia, astuta e habilidosa. Indicou que ela e Sussex subissem com ele ao sótão. Os dois lá viram o cofre, perguntando-se como ele podia selar poderes ali dentro. Belmondo mostrou, em cima de uma mesa de altar, uma adaga cujo cabo era de prata maciça:
- Eu, sempre que adquiro uma capacidade demasiado perigosa, venho até aqui e faço um ritual mágico de sangria, colocando o sangue que escorre do ferimento no pulso dentro de um pequeno frasco. Felicia Morresi ensinou-me este truque quando descobriu minha capacidade herdada de Solomon.
- Vindo de você, não estou surpreso – Sussex sentia como se fosse seu o sofrimento do amigo.
- É por isso que esse tal Invalesco quer matá-lo? – Paquita sentia como se toda a luz solar atingisse seus olhos.
- Talvez. Ou quem sabe ele só suspeite. Levando em conta, porém, que Solomon foi morto em uma emboscada, não duvido do traidor saber sobre mim e ter dito a ele – Belmondo esfregou os dedos nas têmporas.
- Entretanto, não há provas de traição, pelo menos até agora, embora eu não duvide dessa possibilidade. O traidor pode estar bem debaixo do nosso nariz e bem escondido para agir quando for o momento de fazê-lo – Guillermo cruzou os braços e Paquita fechou a cara ao recordar de quase quatro décadas: - Quem garante que o traidor não foi o vampiro que me acusou de alta periculosidade por conta das minhas capacidades e quase acabou comigo?
- Ele pediu desculpas ao perceber seus erros embora eu não negue desconfiar dele – o britânico suspirou curto e baixo.
- Confesso ter a mesma desconfiança até porque Nigel anda viajando com muita frequência e nunca diz aonde vai. E coincidentemente, algumas coisas muito tensas ocorreram no interior da Argentina depois dele regressar dessas viagens. Algo muito parecido com o que ocorreu no México nos anos sessenta e setenta. Juan Palacios teve alguns problemas sérios para acabar com isso e por pouco ele não foi destituído do cargo de vampiro-prior da Norte América. Isso realmente não torna menores as suspeitas em relação a Nigel – Leopoldo sentou-se à cadeira ali localizada.
Os três silenciaram de imediato ao ouvir algo sendo colocado debaixo da porta. O vampiro espanhol logo desceu para averiguar a mensagem. Os outros dois vampiros vieram logo atrás. O elegante papel dizia:
“Na antiga Arena debaixo do Luna Park, amanhã à noite. Esteja preparado para enfrentar seu destino, insolente bastardo. Lord Pedro Invalesco.”
- Se é isso o que deseja, é isso o que terá, maldito! – Belmondo sentiu a fúria vermelhecer seus olhos.
- Caso possível, eu mesmo o enfrentaria. O mataria com gosto! – Guillermo encontrava-se tão furioso quanto o amigo enquanto Paquita respirou fundo contendo sua raiva: - Meu amado conseguirá derrotá-lo, eu sei. Esse Invalesco vai arrepender-se seriamente de sua insolência.
Malefidele, apesar de sua prisão, ainda conseguia usar algo de seus poderes, tendo sendo por isso que soubera. Os servos de Leopoldo ali presentes tinham conhecimento disso em razão de ligação mental. Ele decerto tinha um plano, pensou Carlos. Dificilmente sairia do Brasil sem prevenção. Queria garantir que Belmondo fosse eliminado de vez. O vampiro apenas não entendia o motivo disso ter virado urgência. Viu-se desistindo de planejar algo. Se Lord Invalesco morresse, uma nada remota possibilidade, o Conselho dos Lordes teria problemas, pois o líder era o último de seu clã, praticamente extinto há cem anos. Quem sabe isso faria surgir novos termos na trégua a tanto custo mantida. Resolveu esperar.
Já na Alcateia argentina, o líder da parte brasileira, Dédalo, presente para uma visita de cortesia, já sabia do plano do líder do Conselho dos Lords. Tinha espiões entre os servos dele, que até agora haviam agido sem ser descobertos. Nunca confiara naquele sacripanta de fato. Sabia que uma hora ou outra ele ia aprontar alguma. O lobo líder gostava de Belmondo. Na verdade, devia-lhe a vida de sua filha Ylenia. Há duzentos anos o espanhol a tinha salvo de ser morta por Caçadores enviados por rivais. Desde então teve pensamentos diferentes sobre os vampiros, ou pelo menos sobre ele, embora não os mostrasse publicamente porque a maioria de seus aliados tinha sérios problemas com tais seres.
A luz solar do dia seguinte pareceu passar tal qual um raio e a noite chegou mais escura do que jamais fora vista sobre Buenos Aires. Era como se as estrelas temessem o derramamento de sangue perto de acontecer abaixo do sempre adoravelmente pacífico Luna Park. Leopoldo já se encontrava no famoso local, portando sua inseparável espada com a qual tantas batalhas ele já lutara. A arma lhe fora dada por seu mestre Solomon quando o vampiro ainda muito jovem finalmente estava pronto para duelar como um verdadeiro guerreiro. O prior do Rio da Prata estava pronto para lutar até a morte.
Surpreendeu-se, porém, ao ver um grupo formado por pelo menos uma dezena de vampiros. Não compreendia o que eles faziam ali. Paquita e Guillermo, seus acompanhantes, tiveram a mesma surpresa. Agustín Magaldi, José Betinotti, Rebeca Tsekub, Margarita Duran, Andre Molina, Cristina Suarez e Lola Turguniev estavam acompanhados por ninguém menos que Nigel. O suspeito de traição, como de costume, estava acompanhado de seus servos Malokeh e Naoto...
- Uma pessoa nos informou dos reais planos de Invalesco, Leopoldo. Digamos que ele “te deve uma”, como dizem os jovens de hoje – disse o possível traidor, despertando uma raiva a muito contida na mente da vampira Bernardo: - O que o faz pensar que vamos acreditar nisso, seu... filho da mãe?! Já não basta ter tentado acabar comigo?!
Nigel viu-se cheio de remorso ao ouvir aquilo. Sussex o olhava com o mesmo sentimento de raiva incontida. Belmondo, por sua vez, suspirou reconhecendo a inacreditável inteligência de seu “irmão de sangue”. Estava certo de Nigel saber sobre ser suspeito de ter traído o falecido Solomon: - Eu quero uma explicação. E não tente trapacear.
- Sei o que pensam de mim e seus motivos. No entanto, não posso explicar agora – respondeu ele sabendo de estar arriscando seu pescoço naquela situação. Disse em seguida: - Aquele maldito Pedro Invalesco armou uma emboscada contra você. Não há como dar conta dele e seus aliados sem ajuda.
Leopoldo, sem mudar sua expressão um segundo sequer, usou sua ampliada capacidade mental para sondar a mente de Nigel mesmo ela sendo fechada a maior parte do tempo. O vampiro sequer piscou para permitir que o prior lesse sua mente durante vários minutos. Acabou surpreendendo Belmondo: - Por que não me contou?! Eu poderia tê-lo ajudado, seu... idiota!
- Eu não podia contar. Estava, e estou arriscando tudo para o qual mais dou valor nesta vida. Amenábar está jogando muito mais sujo do que supus inicialmente. Aqui ele estava agindo ainda pior que no México! Tentei salvar o máximo de pessoas que pude, mas infelizmente não podia arriscar meu disfarce. Tinha de fazê-lo pensar que eu o traía, meu irmão. Preferia morrer a deixar que o machucasse! – o vampiro se via à beira das lágrimas.
Bernardo e Sussex viram-se surpresos com tal virada. A vampira, porém, não compreendia porque Nigel quase a matara quase quatro décadas antes. “Será que aquilo também fazia parte do disfarce?”, perguntava-se ela. O outro discípulo do falecido mestre respondeu ao perceber tal dúvida: - Tenha certeza disso. Amenábar quer destruir seu amado a qualquer custo. Mariano sabe o quanto você é amada por Leopoldo. Estava certo de que a matando, faria Belmondo sofrer como nunca. E ainda, se o maldito tivesse conseguido, ninguém suspeitaria de uma conspiração.
- Você sabe quem traiu Solomon? – Belmondo possivelmente não estava pronto para saber a resposta, mas a queria.
Nigel parecia nada preparado para dizer-lhe a resposta. Chocaria aos presentes quando contasse a verdade. Apenas Deus podia prever a reação de Leopoldo. Abriu mais ainda sua mente. Preferiu que seu irmão de sangue soubesse a resposta por si mesmo. Apenas o vento fazia um cadenciado barulho no local enquanto o vampiro-prior enfim ficava sabendo a resposta por duzentos anos buscada. Curvou-se se apoiando na espada enquanto lágrimas sangrentas corriam-lhe as faces...
- Solomon, por quê? Precisava mesmo sacrificar-se para descobrir que Yafar está aliado com o Juízo Final?
A reação viera tão rápido quanto uma chama espalhando-se após o fósforo contatar a gasolina. Estavam horrorizados ao constatar que um dos Ancestrais era um dos maiores vilões, se não o maior, daquela loucura toda. O Ancestral “árabe” invocara o mal advindo do fundo da terra com o intuito de ter o mundo sob sua guarda. Achava os humanos indignos de estarem à frente de um planeta cujos bons potenciais eram infinitos. Solomon, porém, discordava de tamanho absurdo. De tudo fez para evitar tal desgraça. Criou a primeira Arena do mundo com o intuito de descobrir quem eram os mais poderosos guerreiros, arqueiros, videntes e curandeiros do mundo até então conhecido. Desde então a ideia fora difundida. E deturpada.
Daí havia surgido o grupo dos “Guerreiros da Lua”, os primeiros a derrotarem semelhante abominação. Seus espíritos, até ali, reencarnaram em pelo menos quatro ocasiões posteriores, sendo a última naquele momento. Sete dos guerreiros estavam ali para combater Invalesco. Leopoldo, no entanto, estranhava a incompletude do grupo. Quem seria o último deles?
Nigel deu-lhe a resposta, após contar toda a história, de não saber. No entanto, suspeitava de Janus estar escondendo o jogo, pois já não se tinha notícias dele há pelo menos décadas, mais precisamente desde 1935. O vampiro sabia de o Ancestral ter conhecimento do último deles. Todos estranharam semelhante coisa, quando Paquita perguntou: - Você tem alguma suspeita de quem possa ser pelo menos?
- Não porque existem incontáveis possibilidades. O último deles pode ter sido vampirizado ou nascido em 1935. Não há como saber. É aleatório demais – Nigel suspirava e depois disse com sensação de derrota: - Não ajuda que Janus está sem dar notícias desde décadas.
- Quando acabarmos com isso, vamos investigar mais fundo – disse Guillermo para em seguida farejar algo: - O maldito nos espera. Sabe de estarmos aqui e nada feliz por isso. Não possui um plano B. Quer saber quem contou a Leopoldo. Nigel, eu fortemente recomendo que você desapareça o mais rápido possível daqui. Eu e Paquita ajudaremos Leopoldo e os outros. Malokeh, Naoto, protejam seu mestre a qualquer custo.
Muito a contragosto, Nigel concordou. Sabia que mais cedo ou mais tarde, Mariano descobriria seu jogo duplo, afinal, Amenábar também se encontrava aliado com Invalesco. Conhecia bem o bastardo espanhol para saber de ele ser capaz de qualquer coisa para conseguir o desejado. Mesmo isso envolvendo aliar-se com uma das mais detestáveis criaturas existentes. Ele e seus servos afinal se foram dali. Precisavam rapidamente encontrar um local seguro para quando as coisas realmente pegassem fogo. E não demoraria a acontecer...
Os vampiros encontraram a velha passagem secreta por onde antigamente acessava-se a Arena agora inativa de Buenos Aires. Leopoldo lembrava-se claramente de todo o sangue sobrenatural ali derramado. Muitos desgraçados apostavam altas quantias em horrendos duelos até a morte entre as mais diferentes criaturas. Não raramente havia lutas armadas, com o objetivo de satisfazer interesses escusos de certos tipos. O prior, ao descobrir tal coisa e o alarmante número de cadáveres surgidos de tal prática, proibiu tal absurdo. Era injusto usar qualquer ser vivo como joguete de entretenimento. Pior ainda era utilizar tal método para mostrar o que muitos vampiros empolados chamavam de “superioridade vampírica”. Ninguém era melhor que ninguém, a verdade era essa. Todos eram únicos ao seu modo.
Essa era apenas uma das razões de Leopoldo Belmondo ser tão odiado por vários vampiros. Eles achavam o vampiro-prior demasiado molenga com certos assuntos. E muito detestavam o fato dele tratar tão igualmente a todos quando achavam que esses não mereciam sequer a atenção dele. No entanto, o espanhol de cabelos cacheados não se importava. Tomava a melhor decisão possível para resolver a maioria dos casos, preferencialmente tentando beneficiar os dois lados queixosos. Sempre era difícil satisfazer a todos sempre, mas sentia-se satisfeito quando conseguia que ambos concordassem. Quando não lograva, porém, via-se obrigado a tomar atitudes mais drásticas. Às vezes, tinha de matar para proteger o lado mais fraco. Odiava chegar a tal extremo, mas era incapaz de ver quem quer que fosse sofrendo de alguma forma.
Outro dos motivos desse ódio, vindo especialmente de vampiros mais poderosos, era relacionado ao poderio possuído por Leopoldo. Embora tivesse os poderes normais de um vampiro, os dele pareciam incomumente fortes, como se Solomon tivesse adicionado alguma coisa ao transformá-lo. No entanto, era de conhecimento geral que Belmondo sobrevivera muito custosamente à imensa toxicidade do sangue ancestral do falecido. Geralmente, os vampiros transformados por Ancestrais costumavam renascer como tais após dias de prolongado sofrimento. E acabavam após um século ou dois se tornando mais fortes que veteranos de quatro séculos para cima. Tal qualidade deixava muitos deles receosos. E isso os deixava loucos com relação ao prior.
O caso de Invalesco, no entanto, não vinha de nenhum dos anteriores citados. O líder do Conselho dos Lords do Brasil tinha certeza daquele maldito discípulo do amaldiçoado Solomon estar longe de ser um vampiro como os outros. Soubera, por fonte seguríssima, de o Ancestral ter dado a seu favorito um poder capaz de ameaçar seriamente seu futuro e o de outros. O mimetismo possuído pelo vampiro agora morto havia sido passado para o alguém que ele mais digno considerava de usá-lo. Leopoldo Belmondo, em seus pensamentos, era uma ameaça muito evidente. Se continuasse “mimetizando” poderes em breves contatos com seres de capacidades especiais, tornar-se-ia perigosamente poderoso. Tinha a certeza de o espanhol ser a criatura descrita na profecia lida dias antes nas “Epístolas da Sibila Negra”...
“A tempestade que chega,/ O agouro que se avizinha,/ O inverno que se aproxima,/ Das sombras ele vem,/ Das sombras irá se apoderar. /Um para todos comandar. /Poderes a não subestimar.”
Palavras morreram no instante do cruzamento de olhares. Espadas tilintaram com força. Os olhos agora rubros de Leopoldo e Pedro trocaram chispas de ódio. Ambos sabiam das capacidades um do outro. Apenas um, porém, sairia vivo daquela noite.
Os “contratados” de Invalesco, um número pelo menos três vezes o de opositores, logo entrou em cena. Os acompanhantes de Leopoldo logo mostraram ao que vieram. Cada um possuía habilidades ímpares com suas armas ou magias.
Betinotti, o payador noturno, quase dançava balé com suas inseparáveis espadas de fio duplo. Elas quase de cara dançaram nos pescoços de pelo menos três servos, estes permanecendo vivos por pouco. Magaldi, parecendo bailar o velho tango com sua lança retrátil lançadora de lâminas em “V”, tinha acabado de decapitar os três que teimavam em permanecer. Rebeca e Margarita, unidas pelo propósito de nobre salvação, já tinham eliminado, misturando guerrilha e magia, mais cinco daqueles bastardos. A “mulher-vampiro”, tão graciosa com suas mágicas mortalmente infalíveis e a vampira com suas estrelas da morte tendo o dobro do tamanho das conhecidas pelos mortais. Andre, por sua vez, girava rápido e gracioso com um grande tridente prateado a matar pelo menos seis dos vampiros inimigos. Cristina e Lola, em seu turno, utilizavam uma técnica combinando artes marciais e golpes especiais de espada. Pelo menos sete haviam perecido.
Nove “contratados” restavam naquele momento. E estes foram eliminados por Paquita e Guillermo mostrando-se dignos duelistas com espadas e garras. Cabeças, membros e troncos eram despedaçados sem piedade. Os dois, de forma selvagem, defendiam a honra e a vida de Belmondo, a quem amavam às suas maneiras únicas.
Invalesco não podia acreditar que aqueles vampiros com tão pouco tempo de vivência haviam dado conta daqueles seres todos. Eles todos tinham sido seus leais soldados desde que o Conselho havia sido implantado no Brasil, pouco após a declaração da Independência. Não pensara em chamar a ajuda de Mariano, até porque este se encontrava negociando com gentes europeias do Leste. No entanto, não iria precisar daquele bastardo de pouca tarimba. Estava certo de conseguir dar conta daquele insolente prior. Jurou a si mesmo matá-lo. Tinha poderes para isso, afinal.
Pedro e Leopoldo continuavam duelando ferozmente. Era como se o mundo fosse acabar na manhã seguinte.
O sangue negro criava uma forte coloração no chão do local. Os vampiros acompanhantes, agora parados, encontravam-se imundos enquanto observavam os corpos decapitados e despedaçados dos servos de Invalesco. Olhavam fixamente a luta que continuava. Os dois vampiros veteranos pareciam finalmente cansar-se daquele duelo, mas não desistiriam. Um ou outro sairia vivo daquela história. Se não fosse por uma voz a ser ouvida naquele momento:
- Parem com isto, agora.
Pedro Invalesco e Leopoldo Belmondo não desejavam obedecer àquela ordem, mas aquela Voz era demasiado forte e impunha a eles uma obediência quase cega. O Rei Vampiro estava presente na sua sempre incógnita identidade. Os dois viram-se parando enquanto a figura toda de negro e vermelho se fazia presente...
- Bom saber que possuem a prudência de não me desobedecerem. Invalesco, você vem comigo. E não tente fugir. Há muito tempo eu esperava uma chance de finalmente colocá-lo contra a parede. Você me deve explicações inúmeras. E Belmondo, eu recomendo que mantenha Malefidele aprisionado. Ele pode ser muito perigoso. Mais uma coisa: reforce a prisão de gelo de Beatriz Olmedo. Não permita que nada nem ninguém a liberte. Ou isto significará uma desgraça.
- Que?! – Invalesco não podia acreditar que Carlos Malefidele encontrava-se ainda vivo e aprisionado na Boca do Inferno. E menos ainda que o Rei Vampiro tinha a ousadia de vir puni-lo pessoalmente. Levantou a espada intencionando golpeá-lo, mas foi brutalmente detido, e paralisado, por um simples movimento de mão do incógnito: - Não tente.
O Lord viu-se prisioneiro de um poder incalculavelmente maior. Sequer podia mexer-se ou falar enquanto o Rei Vampiro, com suas mãos enluvadas, o agarrava pelo pescoço sob olhares estupefatos dos outros: - Você pagará por suas ousadias, Pedro Invalesco. Sofrerá um castigo terrível por seus crimes e armações.
O Lord de repente viu-se virado em puro medo. Jamais pensara que o supremo soberano dos vampiros viria pessoalmente puni-lo. Não entendia! Por anos não houve um Rei Vampiro. Pelo menos era a teoria. Tinha garantido, com seu poderio, que ninguém descobrisse seu plano, porém, dava-se conta de ter ido longe demais. Tentar subestimá-lo era uma loucura da qual eternamente se arrependeria.
Ninguém ali compreendia a razão daquela inacreditável aparição, afinal, o soberano só aparecia muito raramente e em casos muito especiais. No entanto, aquela podia ser uma razão bastante importante, pois Invalesco matara Solomon em uma emboscada há duzentos anos. Perguntavam-se, porém, o porquê de tanta demora. Possivelmente não havia provas suficientes para acusá-lo formalmente, pois nisso os vampiros assemelhavam-se aos humanos. O Rei Vampiro, pelo menos aquele, costumava investigar detalhadamente cada ocorrência e reunia provas antes de fazer qualquer acusação.
- Diga-me, meu rei, quem traiu Solomon? – Leopoldo ardentemente queria a resposta.
- Você já devia saber que o próprio deixou-se matar. Ele o fez após contar a Nigel sobre os planos de Yafar. Tinha de fazê-lo pensar que seus planos não eram do conhecimento de mais ninguém além de Solomon – respondeu o soberano enquanto sustentava Invalesco em assustadora letargia.
- Mas como Yafar nunca descobriu esse plano? Até onde sei, esse Ancestral é lendário por seus poderes absurdos – o prior não podia crer em tal sorte.
- Por favor, Belmondo, você devia saber que Nigel é um excelente “mente fechada”. No entanto, Mariano Amenábar é um mestre de leitura mental. Por isso Nigel precisa permanecer escondido durante algum tempo. Se aquele maldito descobrir o jogo duplo de Nigel, as chances de destruir o “Juízo Final” serão reduzidas a zero. Ainda mais porque quase nenhum vampiro sabe dos Guerreiros da Lua atuais. Caso Mariano descubra e conte, Yafar enviará seus mais terríveis aliados para matá-los. E neste momento, eles estão em poucas condições de derrotá-los. Eu posso dizer por que os conheço muito bem – respondeu o Rei Vampiro com evidente consternação.
- E você não pode fazer nada?! – Guillermo o observou com atenção e indignação.
- Como Rei Vampiro, só posso alertá-los. Infelizmente não posso interferir. Razões muito fortes me impedem de fazê-lo. Sendo responsável por resolver problemas do mundo todo em razão do meu cargo, não posso priorizar um único problema. Se houvesse um modo, eu o faria, estejam certos – a tristeza dele aumentava a cada palavra.
- É estranho. Não conheci o mestre do meu Leopoldo, mas, você me lembra dele. Meu amado contou que ele costumava ser exatamente assim – disse Paquita tendo agora a certeza de que tinha algo muito errado na história da morte de Solomon. Achou melhor manter os pensamentos em “volume baixo”. Conseguia fazê-lo graças a um truque aprendido acidentalmente.
- Existem problemas piores que esse? – Betinotti achava aquilo conversa demais.
- Tenha certeza que sim, meu jovem. Yafar não está causando problemas apenas com a história do Juízo Final. Vem fazendo coisas bem piores – respondeu ele suspirando enquanto os outros se viam espantados, imaginando como seriam as próximas batalhas.
Leopoldo, Sussex e Bernardo não acreditavam. Não podia ser tanta a ousadia de Yafar. Tinham a certeza, porém, de fazê-lo pagar por seus atos.
Repentinamente, o Rei Vampiro despediu-se. Levou consigo Invalesco. Não pelo motivo que dissera antes. Iria arrancar dele o máximo de informações que pudesse. Ele precisava saber quais seriam e eram os planos de Yafar. Não podia permiti-lo saber dos atuais Guerreiros da Lua. E menos ainda que descobrisse a identidade do alvo da profecia da Sibila Negra.

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